O Palhaço


O Palhaço - Selton Mello ("Lavoura Arcaica") é o Quentin Tarantino ("Pulp Fiction") tupiniquim. É impossível, para quem assistiu "Tarantino's Mind", assistir a um filme de Selton Mello e não se lembrar de quanto o diretor de "Kill Bill" pode ter influenciado o diretor de "O Palhaço".
Calma, antes de me acharem louco. Essa comparação, a meu ver, merece ser feita por quatro motivos:


1º - Assim como o diretor de "Cães de Aluguel", Selton valoriza e traz para a tela do cinema atores e personalidades que não estão mais sendo lembrados pelo grande público, ou seja, não estão em evidência. Se Tarantino fez isso com John Travolta, Pam Grier e com tantos outros, Mello fez esse resgate com Darlene Glória em seu primeiro filme e volta a fazer em "O Palhaço". Dessa vez sua busca passa por nomes como Moacyr Franco, Ferrugem e Zé Bonitinho;


2º - Todas as obras de Tarantino possuem uma trilha sonora diferenciada, com músicas cheias de simbolismos e que dão ao público a sensação de quero mais. Selton Mello mostra a mesma força e riqueza em seus trabalhos;


3º - Se os roteiros de Tarantino costuma fugir do padrão pela força narrativa. Isso também acontece com os dois trabalhos dirigidos pelo ator/diretor brasileiro. É possível dar risada e se emocionar em menos de cinco minutos, dentro até da mesma cena. Os diálogos, ainda que não tão afiados, possuem força e relevância;


4º - A direção segura e forte de Tarantino consegue extrair o melhor de cada ator, com isso o que vemos em seus filmes são atuações muito acima da média e que demonstram a força do diretor para sugar do ator, no bom sentido, a arte de atuar.


Dito isso é importante eu reforçar que, pelo menos nas duas primeiras obras de Selton Mello, não existe a violência, tão forte nas obras do diretor de "Bastardos Inglórios" e, o melhor, essa comparação não pode passar, nem perto no quesito atuação. Enquanto o diretor de "Feliz Natal" construiu uma carreira excepcional como ator na televisão e no cinema, Tarantino é apenas um diretor que gosta de brincar de estar na frente das telas.


Fui assistir o filme pensando que veria algo tenso, reflexivo e dramático como o diretor fez com "Feliz Natal". Ou seja, fui preparado para algo na linha de Fellini. Algo que me tiraria do cinema, talvez, totalmente pensativo. Para minha agradável surpresa fui apresentado a outra conotação cinematográfica.


Não que o filme não tenha momentos tensos, reflexivos e dramáticos, tem sim e por diversos momentos. Mas, também existe humor, diversão, emoção, poesia e muita sutileza.


As participações de Ferrugem, Moacyr Franco, Zé Bonitinho são mais do que especiais, merecem elogios destacados. Porém, em dois minutos de cena, Tonico Pereira (série "A Grande Família") rouba a cena e faz personagem que simboliza muito com o próprio protagonista do filme sobre personalidade dúbia. O elenco de coadjuvantes esta simplesmente magistral com destaques para Álamo Facó ("Cilada.com") e Giselle Motta.


A química entre os protagonistas Selton Mello e Paulo José é simplesmente mágica e encantadora. Parecem como O Gordo e o Magro, Oscarito e Grande Otelo. Uma combinação perfeita.


O roteiro que combina perfeitamente humor e dramaticidade mostra a força da produção. Os olhares dizem muito no filme, mais do que palavras jogadas ao vento. A cena final onde Pangaré e Puro Sangue se encontram é de emocionar. Os questionamentos do personagem Pangaré, são os questionamentos de qualquer um de nós.


Acreditem se quiser, eu nunca fui a um Circo. Agora tenho a sensação nostálgica de ter perdido algo que nem cheguei a ter na infância. Graças a um palhaço que perdeu seu rumo interior e sua felicidade. Não importa o que você pretende fazer nos próximos dias, arrume umas horas para ir ao Circo cinematográfico. O Palhaço merece suas lágrimas e suas risadas.


O importante é refletir, pois no final, e como diz a música do filme: Tudo passa, mas, tudo passará.

Sinopse - Benjamin (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José) foram a fabulosa dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Benjamin é um palhaço sem identidade, CPF e comprovante de residência . Ele vive pelas estradas na companhia da divertida trupo do Circo Esperança. Mas Benjamin acha que perdeu a graça e parte em uma aventura atrás de um sonho. Venha rir e se emocionar com este grande espetáculo.


Filme: 6 pipocas - obrigatório


1 - pipoca - péssimo

2 - pipocas - ruim

3 - pipocas - regular/razoável

4 - pipocas - bom

5 - pipocas - imperdível


36 comentários:

Guará Matos disse...

Amigo depois dessa dissertação magistral irei assistir.
Uhu!
Abraços.

Clube dos Novos Autores - CNA disse...

O seu palhaço daqui, é um palhaço que está expressando felicidade, o meu lá do CLUBE hoje, não está muito bom não, rsss. Também postei sobre palhaços.
Um beijo querido, espero que esteja bem

Unknown disse...

Renato, otimo texto! Já tava na expectativa desse, agora triplicou, vou ver se vejo essa semana ainda e volto para deixar minhas impressões! A comparação com Tarantino faz td o sentido. Selton mello tem futuro como diretor mesmo, já q o proprio disse q não se interessa tanto por atuar...

Fábio Henrique Carmo disse...

Caramba, é isso tudo? Verei com certeza absoluta! Ah ,e ótimo texto, Renato! Abraço!

Anônimo disse...

Ótimo texto. To com vontade de ver o filme !!!!

Nelson J. Alves

Moça disse...

Renato, vi um documentário que lembrei de vc...
vc já assistiu "Estamira" ?

Luna Sanchez disse...

6 PIPOCAS, Renato?

Que delícia deve ser!!!

Adoro o Selton e tudo o que ele faz.

Um beijo.

Gabriel Neves disse...

Caramba, 6 pipocas!!? Estava animado pra ver O Palhaço (não por Selton Mello, pois não gosto muito dele como ator), mas esse teu texto me deixou mais animado ainda. Com certeza vou arranjar um tempo pra ver.
Abração!

Amanda Aouad disse...

Interessantíssima sua comparação com Tarantino, faz todo o sentido. O Palhaço foi uma grata surpresa para mim também, de longe o melhor filme do ano. Sensível, forte, engraçado, emocionante.

bjs

! Marcelo Cândido ! disse...

Vou ver se acho "Feliz Natal" e em breve vou tentar conferir "O Palhaço"
Acho que depois de muitos filmes em que ele atuou, Selton Mello deve ter mesmo essa veia cinematográfica incrível
!!!

Moça disse...

Renato assista, é um documentário impactante.

Unknown disse...

Como não assisti - juro que vou me corrigir - não sei bem se acompanhei a comparação com Tarantino; Mas, achei muito bem sacada!

De fato, não tem como desassociar o Selton com o Tarantino's Mind e seu apelo de fã do diretor.


;D

Tanise Silveira disse...

Não gosto muito dos filmes brasileiros, mas fiquei com vontade de assistir esse!
HSUASHUAHSUAHSUH

beijooos

Marcelo R. Rezende disse...

Um trem que eu amo é cinema nacional, amo a desenvoltura que os nossos atores tem. Acho que por falta de grana, a atuação fica mais em evidência, justamente por ser a arma diferenciadora. Amo mesmo.

Obrigado pelo elogio ao meu texto, apesar dos erros de digitação.

Abraço!

Rodrigo Mendes disse...

Adorei tb a sua crítica amigo e as pipocas! Todos elogiando este filme que deve ser realmente memorável.
Vou assistir!

Só dicas nacionais heim? Feliz Natal e O Cheiro do Ralo tb são ótimo e só comprovam o talento de Selton. Creio que ele será consagrado como cineasta definitivamente.

Tarantino? Hum.... talvez pelo resgate de atores, até preciso rever Feliz Natal para ver suas ponderações que não fogem tanto de uma lógica. De fato Selton assume sua predileção pelo cineasta americano Eu pensei em Fellini e mesmo em Chaplin pelo trailer...

Abs.

Tsu disse...

Oi Renato!
Poxa, valeu pelo elogio ao meu blog ^^.

Caramba, eu nunca ia imaginar que esse filme nacional pudesse ser equiparado á algo de Tarantino! PRECISO ver! Sem falar que o Mello é ótimo ator!

Então...finalmente será o lançamento do livro do seu amigo? Poxa que legal! Bom, eu posso tentar ir se encontrar alguém pra ir comigo o/.
bjs!

ANTONIO NAHUD disse...

Aí vc forçou a barra, Renato... Comparar o cinema sensível de Selton com o trash sanguinário de Tarantino é uma loucura total...
Abração!

O Falcão Maltês

renatocinema disse...

Amigo Antonio eu não comparei. Disse que Mello bebe em algumas fontes, principalmente na questão de homenagens a profissionais esquecidos pela mídia.

Mas, ainda acredito que no futuro Selton Mello fará algo bem no estilo de Tarantino ,o que ele ainda não fez.

Abraços.

Marcos Rosa disse...

Depois do seu post, irei assistir este hoje.

Renato Oliveira disse...

Oi Renato!
Estava curioso para ler sobre este filme. Vi que estava em cartaz mas ainda não assisti. Me pareceu diferente de tudo o que já vi que poderia ser parecido :) Ótima resenha!

abraços

Tsu disse...

Oi Renato!
Nã otem perfil algum kkkk. To vendo com as pessoas que conheço aqui quem topa ir..vai ser onde? Na Paulista? Já tem horas?
bjs!

quaresma. disse...

eu não sou muito fã de circo ou coisa do tipo, mas fiquei encantada com o texto e com trailer. *-*
assim que eu comprar caixinha do som pro pc eu irei assistir e comentar contigo o que achei (:

beijas, eterno ;*
saudade!

Tsu disse...

Oi Renato!
Nossa, brigada por me passar as informações desse evento! Vou tentar ver aqui certinho e se possível irei, até pq faz tempo que não ando pela Paulista..quero tirar algumas fotos por lá \o/. Ah olha só vc incentivando a comparecer apenas para o povo prestigiar o prefácio e não o livro kkkkk(zoeira0.
bjs

Paulinha Leite disse...

Eu ja estava louca pra assistir esse filme, agora entao a vontade triplicou! rs
Uma ótima semana amigo!
Sol-risos ♥

quaresma. disse...

não disse que eu ia voltar?! pois bem, cá estou (:
hoje fui no cinema conferir de perto tudo isso e ticontar uma coisa: AME-Y.! *o*
o filme é tristemente lindo e digno de ser assistido (:
ainda bem que um amigo me ensinou a curtir cinema nacional, se não eu tinha perdido essa linda obra de Selton Mello - que dispensa comentários.

beijas, eterno ;*

renatocinema disse...

Amiga que bom que gostou. Disse tudo: tristemente lindo.

Abraços

Tsu disse...

Ah Renato! Curtiu o Halloween? Pena que caiu numa segunda feira ¬¬

Unknown disse...

ótima dica, hein? Está anotado aqui na minha agenda. Infelizmente, ainda não conhecia o filme! Mas fiquei encantada com sua resenha!

O Neto do Herculano disse...

Até consigo visualizar essas conexões que você suscita,
mesmo assim acredito que é simplificar deveras a obra de Tarantino.
Vejo no, ainda embrionário, cinema do Selton Mello
ecos do cinema latino, em especial Lucrecia Martel,
algo de Ettore Scola e Fellini, além de
John Cassavettes, como o próprio admite.
Em “O Palhaço” encontramos um Renato Aragão melancólico,
meio anos 70, na trupe de “Bye Bye Brasil”.
Mas comparar nunca é legal.

E "Tarantino's Mind" é apenas uma brincadeira.

renatocinema disse...

A obra de Tarantino acredito que é muito mais complexa e relevante dentro do cinema.
Gostei de sua referência a Renato Aragão melancólico.


Não sou fã de comparar, mas, achei que nesse caso, valia a pena.

Tarantino's Mind é uma brincadeira........que eu adoro.


Abraços

SCB disse...

Comentários de cinéfilo apaixonado!
Parabéns!
Wagner Woelke

leandroaleixo disse...

Nossa..O quanto eu ja escutei falar disso.>!!! deste filme....agora com voce falando obrigatrio...vo ter que ver..!! volto para falar hein.rsrsrsrs

Kleyde disse...

Renato,
qual arte não é da emoção?

Tsu disse...

Oi Renato!
AHSASH verdade..ou num sábado, se levarmos em conta o pessola que trampa no sábado de manhã ai só pode aproveitar a noite de Halloween sábado á noite.
bjs

ANTONIO NAHUD disse...

Fiquei muito emocionado com esse filme. Tocante. Bravo, Selton.

O Falcão Maltês

Luna Sanchez disse...

Renato, passando pra deixar um beijinho.

=*