SEARCHING FOR SUGAR MAN

O convidado do Blog dessa vez é muito especial:
Amanda Aouad é Editora e Crítica do site CinePipocaCult. Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA, especialista em Cinema pela UCSal e roteirista de filmes como Ponto de Interrogação, Cidade das Águas e Vira-latas (em produção). É também Membro da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos e da Liga dos Blogues Cinematográficos. Atuou ainda como editora de cinema do site SaladaCultural entre 2011 e 2012, e atualmente coordena a parte de especiais do FalaCinéfilo.
 
 
 
SEARCHING FOR SUGAR MAN  - “Quando a vida parece ficção, melhor fazer um documentário”. Nunca a frase do Projeto DocTv foi tão boa para definir um filme. Searching for Sugar Man, o vencedor do Oscar 2013 de Melhor Documentário, é isso, uma história tão incrível que parece ficção. E nisso está o seu maior valor, não em sua técnica visual.
 
Ainda que tenha algumas brincadeiras na montagem, principalmente na abertura, que a fotografia seja também correta,  e exista algum cuidado especial com a imagem, é apenas uma história bem contada. Porém, "A" história é que nos pega. Não apenas ela, mas a forma como o roteiro nos conta. E nisso, claro, algumas imagens ajudam, como uma cena de preparação, onde vemos uma casa, uma sombra, uma janela e finalmente, uma revelação.
 
Searching for Sugar Man nos apresenta a procura por um ídolo desconhecido. Rodriguez, o artista que vendeu meio milhão de cópias na África do Sul, despertando diversos jovens para o movimento anti-apartheid, na busca pela liberdade. Porém, que ninguém sabia além do que tinha nas capas dos LP´s. E em seu país de origem, os Estados Unidos, era apenas um ilustre desconhecido.
 
O filme parte dessa vontade, da busca por entender esse fenômeno. Um artista comparado a Beatles, Bob Dylan e Elvis Presley, que vendia mais do que os Rolling Stones. Mas, que ninguém tinha uma informação concreta sobre. Um verdadeiro mistério esperando para ser desvendado. Muitos boatos, alguns bizarros que envolviam suicídios no palco. Às vezes com um tiro na cabeça, outros com fogo no corpo. Mas, nada de fato.
 
O roteiro é muito feliz ao nos apresentar essa história aos poucos. Primeiro ficamos sabendo do talento de Rodriguez e da incompreensão de alguns empresários em relação ao não sucesso. Depois, somos apresentados ao sucesso estrondoso na África do Sul, na forma como suas músicas iam ao encontro do que aquela juventude reprimida sentia naquele governo ditatorial, na perseguição a sua música, nos discos riscados pela censura. Para enfim, vermos o movimento de busca, o caminho oposto sendo feito acompanhando o fluxo do dinheiro da venda dos discos, das poucas informações nos dois álbuns disponíveis e nas possíveis pistas nas letras das músicas.
 
A forma como eles observam cada detalhe da capa, como o fato de algumas músicas serem assinadas por Sixto Rodriguez e outras por Jesus Rodriguez. Seriam a mesma pessoa? Afinal, quem era ele, o que aconteceu? Porque sempre havia informações sobre outros artistas norte-americanos e dele não havia nada? Até em caixa de leite a foto do artista foi parar, um costume nos Estados Unidos para pessoas desaparecidas. É incrível como eles vão tentando encontrar endereços nas letras das músicas, também. Uma aula de investigação que nos encanta.
 
Um dos momentos mais incômodos do documentário é a entrevista com o empresário musical Clarence Avant, o antigo dono da gravadora que lançou os dois discos do artista. Todas as gravadoras da África do Sul disseram que enviaram o dinheiro da venda para ele. E ele acaba desdenhando a situação de uma maneira quase leviana. Inclusive se contradizendo. A princípio diz que não sabia de nada e que não recebeu dinheiro algum. Depois começa a querer desmerecer a quantidade de disco vendida, como se fosse um troco sem importância. "Quem se importa?". Se ele recebia o dinheiro sem se importar em repassar para Rodriguez nunca saberemos.
 
A revelação do que, de fato, aconteceu a Rodriguez e a condução do filme a partir daí é o mais incrível. O documentário procura demonstrar isso na conversa com a família e acompanhando o retorno à África do Sul, onde temos imagens de grande emoção. É mesmo incrível. E essa é a força maior do documentário, construir o efeito da investigação, nos envolver naquela história fantástica e nos fazer querer conhecer mais e mais dessa figura especial que é Rodriguez. Por seu talento, sua simplicidade, sua sensatez. É de deixar qualquer um impressionado e doido para correr atrás de suas músicas.
 
Searching for Sugar Man, 2012 / EUA
Direção: Malik Bendjelloul
Roteiro: Malik Bendjelloul
Duração: 86 min.
 
 
 
Sinopse - Nos anos 1970, Sixto Rodriguez foi um cantor de folk que tentou a sorte na cidade de Detroit, lançando dois discos que não fizeram sucesso. Mais conhecido como Rodriguez, sua trajetória musical teve continuidade na África do Sul, onde se tornou um ícone da música pop local e inspiração para as gerações seguintes. Entretanto, Rodriguez simplesmente havia desaparecido. Rumores indicavam que ele tinha se suicidado, mas não havia qualquer confirmação. Até que, nos anos 1990, um grupo de fãs resolveu tirar a história a limpo e desvendar a verdade por trás do paradeiro do cantor.

7 comentários:

Fábio Henrique Carmo disse...

Eu não vi o filme, mas realmente parece muito interessante. A edição brasileira da Rolling Stone deste mês de maio publicou uma matéria sobre ele.

Ótimo texto.

Hugo disse...

Já havia lido sobre este documentário e fiquei curioso para assistir.

Abraço

Iza disse...

Seu post me despertou uma vontade de assistir o filme. Ainda mais na parte em que fala "folk rock". Sim, adoro folk rock. Ta aí um baita motivo (musical) para assistir o filme. Valeu pela dica :)
Abraços <3

MarceloLeite disse...

Esse já estava na minha lista; após seu texto ele foi pro topo dela! Renato, inclui seu link em minhas parcerias!

Abraço

Tô Ligado disse...

Ow... e o Man of Steel??? Tô muito ansioso!

Suzane Weck disse...

Ola Renato,uma excelente dica para quem não assistiu ainda,como eu.Meu abraço.SU.

Rubi disse...

Como sempre ótimas indicações aos seus leitores. Impossível ler o texto e não sentir vontade de assistir o filme!