A CANGA - Em agosto de 2001 era apenas um estudante de jornalismo quando fui trabalhar na Revista de Cinema. No mês de setembro fui selecionado para assistir e comentar um curta-metragem chamado A Canga. Fiquei petrificado e emocionado com o que assisti. Fui apresentado a algo real e que não imaginava existir no mundo em que vivia. Morava em um universo de classe média que só conhecia o próprio umbigo. Eu, que até aquela data nunca tinha ido ao nordeste, senti que o Brasil era muito mais tenso e ousado do que eu imaginava. O calor familiar no sertão era mais insano do que imaginava um esperançoso estudante de jornalismo. Abaixo meu texto publicado na revista sobre a obra que teve direção do competente cineasta Marcus Vilar.
Texto meu publicado na Revista de Cinema - Setembro de 2001
O que é mais difícil de encarar: A falta de liberdade do corpo ou a anulação do orgulho? O diretor Marcus Vilar incita o espectador a refletir sobre essas questões no filme " A Canga". O curta, produzido na Paraíba, trata das dificuldades de relacionamento de uma família no sertão nordestino A ação transcorre no meio de uma lavoura seca, onde o velho Ascenço obriga os filhos , a esposa e a nora grávida a colocarem nos ombros uma canga de boi. O final inusitado, com pitada do estilo "Tarantino", levanta questões sobre os limites pessoais.
O resultado é um drama sobre o homem nordestino, preso às suas dificuldades e aos seus conceitos. "A Canga" baseado livremente no romance homônimo de W. J. Solha (que interpreta Ascenço), venceu o prêmio especial do júri no 5º Festival Luso-brasileiro de Santa Maria, em Portugal, e foi eleito o melhor filme do XI Cine Ceará. Ganhou também o Prêmio Canal Brasil de Aquisição no 29º Festival de Gramado e dois Kikitos por melhor música e prêmio do júri popular.
Em 2013, ao iniciar meu processo de TCC, no meu curso de História, onde ainda tinha dúvidas sobre o que escolher dentro do universo cinematográfico, revi a obra de Marcus Vilar. O filme foi apresentado no Canal Brasil numa noite assim que cheguei da faculdade. Lembrei que não tinha lido a obra. Comprei o livro pelo site estante virtual. Em dias recebia o texto de W. J. Solha. Em seguida entrei em contato com Marcus Vilar solicitando uma cópia do filme, afinal queria completar o círculo e renascer sobre a obra. Em seguida publiquei um texto para o site cinemadetalhado. Abaixo minha visão sobre o livro A Canga, publicado em dezembro de 2013.
Trabalhei pouco tempo na redação da Revista de Cinema, quando era estudante de jornalismo. Porém, por menor que seja o tempo, quando se aproveita ao máximo, conseguimos absorver o máximo de conhecimento possível. No campo cinematográfico o relógio é fundamental. Particularmente entendo que meu estágio na redação foi espetacular para ampliar meu conhecimento sobre vídeos independentes e, principalmente, sobre curtas-metragens nacionais.
Dentre os diversos curtas que comentei durante o período em que trabalhei na revista dois me deixaram marcas. O primeiro foi A Ilha de Zeca Pires , o segundo foi “A Canga” de Marcus Vilar e o destino me fez reencontrar o trabalho de Vilar.
Meses atrás defini que meu TCC na Licenciatura em História seria sobre a Revista de Cinema. Com isso busquei edições antigas e encontrei o comentário sobre o filme “A Canga”. Poucos dias depois, através do Canal Brasil, faço uma nova visita a obra de Vilar e relembro que o filme é baseado numa obra literária de W.J. Solha. No dia seguinte entro no site Estante Virtual e compro a obra de Solha.
O livro chega em 3 dias, devoro a obra em um único dia, em uma manhã. É fato que minha leitura viaja pela obra cinematográfica. Tudo é tenso, envolvente, apaixonante e angustiante.
A obra de W. J. Solha fala sobre um Brasil muito conhecido para alguns e pouco apresentado para a maioria. Riqueza e poder são jogados na leitura (rica e poderosa); personagens que representam nossa cultura simbolizam o país e sua falsa moralidade. Religião, mortes e o sagrado laço familiar também são colocados nesse jogo literário, onde todos são culpados e inocentes. Conflitos, amores e sacrifícios num mundo mágico e selvagem dentro do Brasil.
E viva a literatura brasileira……e viva as adaptações cinematográficas
A Canga - 2014 - depois de tudo isso só posso dizer que " A Canga" seja o filme, seja o curta, precisam, urgentemente, serem descobertos pelo povo brasileiro. O sertão brasileiro não é apenas o trabalho de "Deus e o Diabo na Terra do Sol". A visão de Glauber Rocha é magnifica, porém, não é a única.
Livro: 4,5 pipocas
1 pipoca - péssimo
2 pipocas - ruim
3 pipocas - razoável/regular
4 pipocas - bom
5 pipocas - ótimo